terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Macedonio Fernández


Para uma teoria humorística (fragmentos)

A: Foram tantos que faltaram que se faltar mais um não vai caber.
B: E quem faltou por último?
A: Lembro-me que faltaram juntos o último a faltar e o que faltou mais.
B: Nesse caso, seria bom fazer uma lista dos nomes dos que faltaram, como se faz no Instituto de Dissertações.
A: Não creio, pois no dia seguinte, quando as pessoas que ao compareceram se encontrassem, haveria querelas sobre prioridade. “Faltei antes de você.” “Eu era o décimo e não o décimo quarto.” “Faltei imediatamente depois de Gomez.” “O senhor me inscreveu de forma errônea.” E alguém que soubesse pedir desculpas diria: “Faltei, é verdade, mas fui um dos primeiros.”
B: Bem, se minha proposta não serve o que se deveria dizer em tais casos? O que você pensa? Pois, se deixarmos as coisas assim, sem mais nem menos, a oratória se vai tornar um gênero em vias de extinção.
A: Pensei nisso também. Poder-se-iam primeiro dar as conferências e só depois anunciá-las. Ou fazer como no “Círculo dos Intelectuais”: “Hoje não dá conferência o romancista fulano de tal”. Como não haveria hora indicada, não se poderia falar de ausência, e desse modo teíamos sempre auditório completo.
B: Poderíamos também espalhar o seguinte boato: Acuña, o renomado conferencista, costuma publicar depois de suas conferências as opiniões mais comprometedoras dos ausentes. “Domingues, que faltou à última conferência, disse que era a única que valia a pena assistir.”Outro opinaria que a nulidade dos conferencista de Buenos Aires é tal que não fosse a genialidade do conferencista Acuña, perderíamos a nossa reputação diante da opinião mundial. Então, todos assíduos ausentes de suas conferências teriam medo de faltar mais uma vez e provocar a ira dos demais conferencistas desacreditados por esses elogios ( e, graças a esses medo, teríamos assistência regular). Em suma, ao cabo de certo tempo, a conferência a que mais se temeria não assistir seria a de Acunã, e nenhum julgamento seria tão temido quanto os dos famosos faltantes das conferências do famoso Acuña.
A: Coloco-me no lugar de Acuña: para desautorizar as opiniões elogiosas que se atribuem aos seus ausentes e lhe valeram a malevolência dos demais conferencistas, ele deverá dar certificados de inassiduidade aos que comparecerem para que não sofram represálias dos dissertadores , por terem ido assistir Acuña.
B: “Certifico que o Sr. Dudino Rodriguez é o faltante, mas assíduo de minhas conferências”, dirão os certificados de ausência.
A: Mas entre os ausentes há não somente os mais assíduos, como também os melhores.
B: Poder-se-ia dizer de um deles: “Só deixou de faltar uma única vez por motivo de doença.”
A: Com essa diplomacia extra-oficial da ausência...
B: Acuña poderá proclamar que era mentira flagrante a que se espalhava, de que em suas conferências não haveria mais lugar para ausentes,enquanto nas dos outros não cabiam mais concorrentes.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Aos Caros Imbecis

Esse espaço está dedicado a reflexão. Todas as palavras aqui escritas pretendem algo, dizem algo, sonham algo. Como se fosse possível sim, a transmutação de palavras em mais do que sentidos em sentimentos.
Aqueles que não sentem o gosto das palavras. Aqueles que as usam como simples pedaços da comunicação: para pedir água, uma taça, um prato ou um tempo.
Os caros imbecis estão sempre se dedicando ao sofisma. Uma prática corajosa, mas que não me interessa de modo algum. Então não venham!

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Tinta preta

Ela se aproxima em preto e branco
Toca meu rosto como se fosse seu
Não me desfaço a cada toque
Mas, o nanquim ocupa o lugar do que era antes controle

O desejo ocupa o espaço do que era antes controle
Fica impresso em tinta preta o sorriso
Antes nem conhecia
Agora vejo de perto em uma janela feita de memória

Sua forma de violão segue as escadarias
Seu pincel agora me pertence
Seu toque ficou preto na pele
Sua voz só agora me alcança

Seus beijos
Seus cheiros
Seu toque de tinta nanquim
Olhos de quem ja viveu, de quem já me conhece, de quem prevê o futuro nas manchas de tinta preta do meu rosto

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Felicidade e Literatura



Henry James, por exemplo, deve ter sido um homem infeliz e melancólico, mas isso não tornava sua vocação estéril, muito pelo contrário: pensava que esse estado era oportuno para construir um argumento. A felicidade não precisa ser transmutada em beleza, pois se trata de um fim em si mesmo.
por Borges em: Sobre os sonhos e outros diálogos

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

E me levei a este lugar...


Me dei conta que estava diante desta paisagem e que a visita não mais existia.
É o fim.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Afinal...


Afinal quem de nós está realmente vivo? Que certeza temos de estarmos em nosso ou em outro tempo? Quando olho para o céu noturno e vejo luzes de coisas que nem exitem mais, tenho certeza de que a dúvida é o que mais precisamente caracteriza a existência. Quem está vivo e se comunica com os mortos, pode ter a mais profunda dúvida a respeito dos mais preciosos mistérios que acompanham a humanidade por tempos imemoriais, sim tempos sem memória sem controle, somente uma nuvem de dúvidas e mistérios que como a morte, nunca serão elucidados. Essa, meu caro visitante, é a nossa certeza maior. Você veio aqui, para me dizer que tenho dúvidas, e não acrescentou nada como resposta. Estou aqui refletindo em meus sonhos e espero que não o encontre na minha vigilia, pois, estou cansado.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Visita final?

"Parece que você quer dizer algo a meu respeito. Como se eu soubesse qual a questão. Que perda de tempo! Você serve exatamente para que?"
Esperei a resposta. Demorou bastante. Me concentrei no relógio de parede para tentar cronometrar o tempo, mas, me esqueci de subtrair e até mesmo de olhar para o relógio quando ele apareceu bem na minha frente. Me olhou com um ar tranquilo e disse: "A questão da morte da sua mãe continua presente a cada momento. Ela deixou de existir, enquanto você continua "sendo". E daí? Você dirá... Eu respondo por você: Não sei que importância isso tem. Nem mesmo sabemos se estamos vivos ou se estamos repetindo a existencia de outros e nos espalhamos achando que estamos em algum lugar sendo algo. Vivo essa mesma angustia, a cada instante, a cada gesto, a cada morte que me circunda." Não sabia o que dizer nem mesmo lembro o que se sucedeu. Me encontrei andando por uma trilha que chegou a um banco de madeira sem encosto. Por ali fiquei, sem sentir nada.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Visita VI

"Vou te chamar de contradição!" Foi assim que acordei procurando a minha volta. "Porque você disse que não podemos existir sem simbolizar e me propõe, de maneira irresponsável, esquecermos isso e simplesmente filosofarmos. Que tipo de tolo você pensa que sou para continuar falando com você depois desta proposta idiota? Você é exatamente o que eu já desconfiava: uma assombração vazia, tola..." Houve um profundo silêncio. O ambiente estava vestido de algo onírico. Meu estado era de confusão em terras limítrofes entre sono e vigília. O visitante nada disse. Seu silêncio se tornou pertubador e ondas de tremor tomaram conta do meu corpo. Depois de algum tempo ( não sei dizer quanto) ouvi sua voz, desta vez aveludada, dizer: "Você pode desistir deste diálogo quando quiser. Não é obrigado a conviver comigo. Pense bem aonde quer chegar com seus desejos e reflexões. Saiba que meu julgamento não importa e que a chave de nossa convivência simplesmente não existe. Romancear tudo a sua volta não responde, nem de longe, a questão que você mais persegue."
Levantei-me como que convulcionado e vomitei o sanduiche com cerveja que havia no meu estômago e eu nem sabia.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Visita V


Abri os olhos e me encontrava ainda sentando na poltrona de couro surrado. Ele estava por perto, porém, sua presença falhava como um sinal de rádio que sofre interferência. Então ele disse com uma voz fraca e distante: "O humano só consegue existir por causa da capacidade de simbolizar o mundo. A questão semântica para o humano é de uma importância radical. Sim..a raiz da experiência humana está capacidade e necessidade de dar sentido, de existir por e para um símbolo construido por nós."
Fechei os ohos e disse: "Porque pensar nessas coisas? São construções filosóficas... a necessidade de contruí-las que te trouxe aqui? Como se você quisesse ser e dizer algo por meio das minhas reflexões. Que bobagem! Tudo que se diz hoje já foi dito em algum momento. Essa impotência de não se dizer nada de novo me paralisa e para compensar essa paralisia criei uma alucinação que é você." Calei-me esperando uma reação do visitante. Ele repondeu prontamente: "Tá vendo? Você ta tentando dar sentido a minha existência! Não seria melhor aproveitar nosso diálogo para entender outras coisas? Simplesmente filosofar, sem simbolizar, sem controlar...
Levantei-me e procurei o visitante que havia sumido.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Visita IV

O que houve no último encontro não me intriga mais do que o rumo que nossa conversa havia tomado. O meu visitante estava querendo me entender e eu querendo entendê-lo. Como quem está lendo esse relato pensa em interferir no que digo. Penso que acabam interferindo mesmo, pois, tenho que dar conta de alguma coerência, o que é em si incoerente, já que não faço idéia que conexões e estímulos crio com essas linhas.

"Olá meu caro" Ele apareceu em algum lugar atrás de mim, só que dessa vez não consegui vê-lo a não ser por um vulto na minha visão periférica, entretanto, a voz estava bem viva. "Você não me verá agora por questões de economia de energia" Disse isso em tom brincalhão. Então relaxei na poltrona de couro surrado e disse: "Vamos retomar ou vamos em frente?" Ele disse: "Vamos em frente." Categórico. "Quero falar de conexões e obviamente de economia, dessa economia que você mensionou." "A de energia?" disse ele interessado e sua voz parecia mais viva, mais energética, se é que isso quer dizer algo... Então ele começou a falar com cuidado: "As conexões estão por toda parte, não podemos fugir nem buscá-las, elas simplesmente estão aí a dispeito de nossos desejos. Não sei se fica claro pra você que a economia que mensionei tem a ver com as conexões, com os encontros e desencontros que desencadeiam consequencias energéticas a todos em todos os mundos" "Todos os mundos?" Indaguei surpreso. "Sim mas isso não pode ser explicado, pois não há uma explicação que a linguagem abarque" Ele sumiu. Eu dormi.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Visita III



"Já que você não está à vontade, façamos o seguinte: diga coisas sobre seu tempo usando associação livre de palavras, ou frases ou parágrafos..."


Me veio de novo a preguiça. E essa preguiça era algo a se pensar, já que eu estava vivendo um momento extraordinário. O encontro com um morto que tinha contornos de ter sido um ilustre alguém me dava preguiça? Como? Porque? Aproveitei como gancho o meu proprio pensamento e comecei a falar: "Indiferença traduz meu tempo, consumo, medo, informática, informação, difusão, disfunção, depressão, medo..." Nesse momento ele me interrompeu: "Você repetiu medo. Sabe porque?" Respondi: " Não... podia ter sido indiferença também... Ou qualquer uma dessas palavras. O que importa? O medo permeia a experiência humana desde sempre..." Ele me interrompeu com um gesto para que eu parasse de falar: "Voce está fugindo. Está com medo? Está tentando manipular um morto? Eu morri meu caro...Estou aqui para..." Eu o interrompi irritado: "Pois é... que tal você me dizer pra que você apareceu para mim? Que tal você falar de você um pouco? Para que se abra um canal de confiança entre nós?" Ele abaixou a cabeça olhou para as próprias mãos, olhou para mim com um ar de tristeza e respondeu num sussurro: "Isso não será possivel." Eu respondi prontamente: "Então foda-se! " Ele sumiu literalmente em um piscar de olhos.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Visita II

http://www.artnet.com/ag/fulltextsearch.asp?searchstring=Don+Van+Vliet


Por algum tempo houve um silêncio tranquilo, até que ele me perguntou de forma direta, quase abrupta: "Você se acha uma pessoa integrada ao seu tempo?" Ohei para ele me sentindo cansado daquele momento, não cansado da conversa, pois, não haviamos falado muito. Sentia-me cansado profundamente, sem energia. Respondi: "Sua pergunta é muito ampla, portanto, prefiro não desenvolver uma resposta, pois, ficarei com a sensação de que foi pequena minha contribuição para suas dúvidas. Sei que você dirá que não importa o quanto minha resposta é completa ou não... Ele me interrompeu: "Você ainda está pouco à vontade comigo. Espero que isso passe logo e que possamos conversar mais e melhor, entretanto, posso lhe dizer que você me dá sinais de não estar satisfeito com o seu tempo e acho que essa insatisfação pode ter a ver com uma coisa que lhe é muito cara: o esclarecimento. Quer falar sobre isso?"

Me veio uma onda de energia e curiosidade no momento que ele falou sobre o esclarecimento, pois é algo que me faz pensar bastante há algum tempo. Me senti revigorado e percebi que de alguma forma aquela estranha visita poderia me dar mais do que uma experência sobrenatural.

Então respondi: "Não vou entrar no mérito de como você sabe de algo que venho pensando e que não cometei com ninguém. Vamos ao que interessa que é falar sobre essa questão. Acho que o esclarecimento não está em nenhuma pauta em nenhuma área da experiência humana contemporânea. Não sei o porque disso, mas me parece que a humanidade não está interessada em discutir e esclarecer. A comunicação parece ter alcançado a todos, porém, o mesmo não ocorre com a difusão do esclarecimento."
Ele me olhou como se seu olhar me atravessasse, fechou os olhos e disse: "Desculpa eu preciso descansar" Levantou-se e saiu pela parede.
Pensei se realmente vou encarar isso com naturalidade ou se estou só atuando.

domingo, 27 de setembro de 2009

Visita

http://www.artnet.com/ag/fulltextsearch.asp?searchstring=Don+Van+Vliet

Ele apareceu na sala enquanto meus olhos estavam fechados e disse:
"Vim para ver o estado das coisas!"
Eu olhei para ele tentando ser natural diante de uma manisfestação sobrenatural.
E disse em tom formal:
"Sim, que interessante. E você pretende começar por onde?"
"Pelas relações humanas é claro! O que mais pode ser importante do que o comportamento dos humanos nesse tempo?"
Eu pensei por alguns segundos e tentei projetar para os próximos momentos onde aquela conversa poderia ir e o que eu poderia fazer com aquela aparição.
"Eu não sei por onde você possa começar, você deixou as coisas no meio da segunda guerra. A guerra acabou, o comunismo acabou, surgiu a internet..."
Ele me interrompe deixando claro a pouca importância do que eu estava dizendo.
"Não se aflija meu caro, eu sei bem por onde começar... Começarei por você que certamente representa tudo e todos do seu tempo. Nossa conversa será longa, pegue um copo d'agua e se prepare."
Nossa conversa se iniciou não sei bem por que assunto.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Em CONTO




O leito da minha vida passa longe

Você surgiu na década completa

Os caminhos nos ajudam a entender os encontros?

Os encontros é que formam os caminhos?


Prefiro a lógica aborígene que faz das trilhas a mais sagrada obrigação ritual

Mas fui inteiro e dessa inteireza surgiu aquele faixo de luz que une


A nossa grande preocupação por explicar está terminada

Não há explicação pra quase nada no que sentimos e tocamos


O leito da minha vida passa longe

Longe das trilhas

Longe daquela ilhazinha que sucumbe a enxurada de razões, desejos, fé e ressentimento

A culpa é como o assoreamento, ela dói e ela destrói


O leito da minha vida te encontrou
E assim, nessa traquilidade das águas, nos entregamos


terça-feira, 1 de setembro de 2009

|O|F|A|N|T|A|S|M|A|


Eu já desconfiava que você é um fantasma.
Fantasmas não sabem a diferença entre exercício de maldade e crítica.
Eles só vagam por aí tentando chegar a um fim.
Defino fantasma com a sabedoria e segurança que nunca foi me dada. Não aceito que tripudiem da minha inocência, mas aceito que me façam inocente.

A diferença é mais profunda quando olho nos seus olhos e vejo aquela chama da paixão.
Me parece que essa chama, não é um chamamento é tão somente um fenômeno químico, físico, natural...

Sempre me envolvo com fantasmas. Essa é minha missão.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

BO-CE-JO
















Entendo a nossa busca por sentido. Entendo nossa busca por controle. Me parece que existe uma falta de sentido inerente na procura constante por sentido. Já que nos foi dado o universo e este é infinito, será também infinita a busca por sentido (?). Então deparei-me com esse trecho escrito por Victor Hugo (Os Miseráveis):

O conjunto era glacial, regular, horrível. Nada melhor para entristecer o coração do que a simetria. É que a simetria é o tédio, e o tédio é a base do luto. O desespero boceja. Por acaso pode-se imaginar algo mais terrível que um inferno onde se sofre? Perfeitamente, se criarmos um inferno onde o condenado se entedie.

domingo, 2 de agosto de 2009

Tempo



Lendo Borges chegou-me uma citação de Schopenhauer:

"Felizmente para nós, nossa vida é dividida em dias e noites, nossa vida é interrompida pelo sono. Levantamo-nos pela manhã, passamos nosso dia, em seguida dormimos. Se não houvesse o sono, seria intolerável viver, não seríamos donos do prazer. A totalidade do ser é impossível para nós. Assim, dão-nos tudo, mas de forma gradual."

E Borges completa:

A transmigração corresponde a uma idéia parecida. Seríamos, ao mesmo tempo, talvez como crêem os panteístas, todos os minerais, todas as plantas, todos os animais, todos os homens. Felizmente, porém, não o sabemos. Felizmente, cremos em indivíduos.
Do contrário, nos sentiríamos oprimidos, aniquilados com essa plenitude.

Tempo é só o que nos resta...

segunda-feira, 15 de junho de 2009

ponto | equilíbrio




Desde sempre o desejo.
Quase sempre as mãos em busca de tudo.
Se não foi assim que entendi nossa conversa, foi porque não houve conversa. Mas o que eu pretendia vestindo minha cueca da sorte? Desde quando eu me movi para estar exatamente naquele lugar e em frente aquele copo de fermentada delícia?
Não há uma só resposta que não seja válida para a ocasião. Ela me olhou, me tocou e pediu muito mais do que eu estava disposto a dar. Para minha surpresa cedi... Dei tudo o que sou.
E o copo ficou vazio.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Borges

A músca, os estados de felicidade, a mitologia, os rostos trabalhados pelo tempo, certos crepúsculos e certos lugares querem dizer algo, ou algo disseram que não deveríamos ter perdido, ou estão prestes a dizer algo; essa eminência de uma revelação, que não se produz, é talvez o fato estético.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

do primordio


Este desenho foi feito pelo meu amado primo Edilson. E o texto abaixo ele publicou.


"Os românticos eram criadores de mitos incorrigíveis; a arte não é, certamente, a língua-mãe da humanidade. É, de fato, uma linguagem altamente artificial, um meio de expressão estranho, equívoco, forçado. Os indivíduos normais não vêem razão para a utilizar. Escrever poesia ou pintar quadros para gozo dos outros e como remuneração pode ser uma ocupação inocente ou mesmo recomendável; contudo, produzir obras de arte como hábito ou obsessão é, para dizer o mínimo, uma atividade excêntrica. Por que é que uma pessoa normal havia de pretender que a vida é diferente do que realmente é? Para o fazer, ele terá de estar em desacordo com o mundo e sentir-se alienado ou desorientado de algum modo. "

A perspectiva psicológica/Psicanálise e arte.Arnold Hauser – Teorias da Arte pag.:79

quinta-feira, 14 de maio de 2009

segunda-feira, 4 de maio de 2009



Tempo que não se usa mais como medida para qualquer coisa. Esperança, é o que temos.

Mas temos alguma coisa além de uma porta que se abre para tantas outras portas?

As coisas são tão importantes como o miado do gato carente.

Temos todos os motivos do mundo para esperar o dia em que seremos agraciados como todo o ouro e toda prata.

A madeira? A marcenaria? Os Livros? Pouco importam, pois, não nos carregam a lugar nenhum. Nós os levamos e na esperança de que eles nos levem.

Mas as coisas são importantes. Elas valem mais do que mulheres nervosas e confusas. Valem porque são coisas e sem coisas você não vive. Você, repito, você não vive!

quarta-feira, 8 de abril de 2009


Já fui motivo de chacota. Não nego.
Me inspiro no nada, já que nada tenho como referência. Todos esperam nada de mim, alguns parecem me querer bem. Não entendo nada do que dizem a respeito da vida, muito menos da morte.
Outro dia falaram-me de suicídio. Não entendi. Falaram que é tirar a própria vida. Não entendi.
Sempre escuto alguem falar, não sei dizer exatamente onde, de solidão. Perguntei ao Velho o que é solidão. Ele riu muito, ficou rindo por muito tempo sem olhar para mim e não respondeu. Desisti de entender a tal solidão.

Andando, pela aquela avenida que sonhei, encontrei no chão uma folha de árvore dura, que se chamava coração.

Guardei minhas lembranças espalhadas naquele caixote ali... É, aquele de bacalhau!

sábado, 4 de abril de 2009

Primordio


Vem de longe
Algo que não se pede
Algo que não se tem

Troca
Ambição
Sentido
Primo: de primeiro, de pratica e de prazer

Nós somos aquilo que sempre encontramos e descobrimos na Vila Mariana
Dos noventa anos idos da bem dita década do fim do século

Sem primordio não somos futuro algum
Sem adjetivos prefiro me calar

Sem o primordio; fico sem primo; de primeiro; de pratica; de prazer...

sexta-feira, 27 de março de 2009

O que importa é a Grana

Sempre pensei que bailarinas dançassem

Sempre achei que elas eram de borracha

Macias, flutuantes, dispersas, imponderáveis...

Bailarinas dançam, é verdade, mas há um encanto naquela bailarina ali

Ela sofre e transpira,

Ela é uma fada em pele de bruxa

Ela é real

Ela é má

Ela é única

Constante e inconstante... Incontrolável, Intolerável, afável, doce...

A bailarina do meu sonho me pertence há muito tempo

Ela não me escapa

Um fio nos conduz um ao outro sempre

Nada místico,

Nada poético,

Nada humano,

Esse fio chama-se amor

quinta-feira, 12 de março de 2009

Estética do puteiro


Dava um artigo acadêmico pedante sobre a profissão mas nobre do mundo (substitui o axioma “mais antiga do mundo” por puro deboche). A livia me empurrou para a zona. Encontrei uma puta chamada Clarinha, que era do tipo mau humorada. Aquele tipo puta arrependida, que diz: “estou aqui por pura necessidade e logo caio fora”. Detesto essa desculpa recorrente e ao mesmo tempo não gosto de puta feliz. Aquele tipo simpática que apesar do em torno, pois estou falando de puteiro pobre, “ta curtindo” o lance de se prostituir. Gosto de puta deprimida, de paredes vermelhas, de cheiro de desinfetante barato, de cama de alvenaria e de toalha que não enxuga. Zona tem que ter esse peso e combina com cocaína, cerveja junto com cachaça e mulheres com seus corpos fora de forma com cicatrizes de cesarianas.

Espaço pra sofrer (ilha Solidão & Mazelas)


Era uma vez uma menina rica, bonita, inteligente e triste...

Ela se isolou em uma ilha longinqua que se chamava Solidão.
Ela era feliz na sua ilha Solidão, pois lá ela tinha espaço pra sofrer.
Ela viveu sofrendo em sua ilha até que um homem em seu paraquedas de bolas de encher caiu por acidente na ilha Solidão.
Esse homem não se lembrava de onde vinha, mas ao conhecer a menina se encantou e se enterneceu com sua tristeza. Ele tentou contato com a menina por varias vezes mas ela se escondia na mata ao menor movimento do homem.

Ele a observava em sua profunda tristeza e assim ia ficando cada vez mais ligado a menina apesar da falta de contato.

Um dia após muitos anos a menina deixou o homem se aproximar e disse: "Pergunte o que quiser, mas eu só responderei a uma única pergunta"
Então o homem pensou por alguns minutos e perguntou: "O que você mais precisa e não tem ainda?"

A menina respondeu sem titubiar: "Eu quero espaço pra sofrer" deu uma pequena pausa e completou: "Você está me atrapalhando".

O homem caminhou em direção ao mar e mergulhou e nadou até sumir de vista.

Caverna 1967

Este Blog se inicia com uma homenagem ao mito da caverna de Platão.

Imaginemos um muro bem alto separando o mundo externo e uma caverna. Na caverna existe uma fresta por onde passa um feixe de luz exterior. No interior da caverna permanecem seres humanos, que nasceram e cresceram ali.
Ficam de costas para a entrada, acorrentados, sem poder locomover-se, forçados a olhar somente a parede do fundo da caverna, onde são projetadas sombras de outros homens que, além do muro, mantêm acesa uma fogueira.
Os prisioneiros julgam que essas sombras sejam a realidade.
Um dos prisioneiros decide abandonar essa condição e fabrica um instrumento com o qual quebra os grilhões. Aos poucos vai se movendo e avança na direção do muro e o escala, com dificuldade enfrenta os obstáculos que encontra e sai da caverna, descobrindo não apenas que as sombras eram feitas por homens como eles, e mais além todo o mundo e a natureza.