quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Visita III



"Já que você não está à vontade, façamos o seguinte: diga coisas sobre seu tempo usando associação livre de palavras, ou frases ou parágrafos..."


Me veio de novo a preguiça. E essa preguiça era algo a se pensar, já que eu estava vivendo um momento extraordinário. O encontro com um morto que tinha contornos de ter sido um ilustre alguém me dava preguiça? Como? Porque? Aproveitei como gancho o meu proprio pensamento e comecei a falar: "Indiferença traduz meu tempo, consumo, medo, informática, informação, difusão, disfunção, depressão, medo..." Nesse momento ele me interrompeu: "Você repetiu medo. Sabe porque?" Respondi: " Não... podia ter sido indiferença também... Ou qualquer uma dessas palavras. O que importa? O medo permeia a experiência humana desde sempre..." Ele me interrompeu com um gesto para que eu parasse de falar: "Voce está fugindo. Está com medo? Está tentando manipular um morto? Eu morri meu caro...Estou aqui para..." Eu o interrompi irritado: "Pois é... que tal você me dizer pra que você apareceu para mim? Que tal você falar de você um pouco? Para que se abra um canal de confiança entre nós?" Ele abaixou a cabeça olhou para as próprias mãos, olhou para mim com um ar de tristeza e respondeu num sussurro: "Isso não será possivel." Eu respondi prontamente: "Então foda-se! " Ele sumiu literalmente em um piscar de olhos.

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